Queilite é a denominação dada aos processos inflamatórios dos lábios provocados por diversos fatores e, aqueles com histologia específica e eventual localização labial, como líquen plano, lupus eritematoso, pênfigos e sífilis, estão excluídos dessa designação de queilite propriamente dita. A queilite mais comum é aquela pequena fissura no ângulo de encontro dos lábios superior e inferior que dificulta abrir a boca e que se a abrirmos um pouco mais sangra e arde.
É causada pela exposição contínua ao sol e pode evoluir para o câncer. Ocorre com maior frequência em homens brancos, acima de 40 anos.
As principais queilites classicamente descritas na literatura médica por sua importância clínica, frequência e potencial de malignização serão destacadas abaixo:
A queilite actínica é uma reação inflamatória e pré-maligna do lábio, causada pela exposição prolongada e crônica aos raios solares. Acomete quase exclusivamente o lábio inferior, por ser o mais exposto, e é mais frequente nos indivíduos de cor branca e do sexo masculino que exercem atividades ao sol, como agricultores, pescadores e pedreiros. A menor frequência entre os negros ocorre pelo efeito protetor da melanina e acredita-se que, entre as mulheres, seja pelo uso do batom, que atuaria como fator de proteção.
Caracteriza-se clinicamente pelo aparecimento de manchas brancacentas com perda da coloração uniforme da semimucosa ou vermelhão do lábio, ficando borrada a linha de delimitação do mesmo com a pele. O lábio fica ressecado, descamativo, tornando-se cada vez mais áspero. Com a continuação da exposição solar há atrofia e surgem crostas e erosões. A presença de ulceração (ferida) na queilite actínica é indicativa de malignização. Tais pacientes em geral apresentam outras alterações cutâneas crônicas degenerativas, como ceratoses actínicas e/ou câncer de pele, em outras áreas expostas ao sol.
O uso de protetores solares labiais é indicado na prevenção de recorrências.
A queilite actínica pode evoluir para câncer, se não houver correto tratamento e acompanhamento.
A queilite angular é um processo inflamatório localizado no ângulo da boca, uni ou bilateral, caracterizado por discreto edema, eritema, descamação, erosão e fissuras. É freqüente a ocorrência de períodos de remissão e exacerbação espontânea.
Geralmente está relacionada a um ou mais dos seguintes fatores implicados na sua etiologia: agentes infecciosos (estreptococos, estafilococos e Candida albicans); doenças dermatológicas (dermatite atópica, envolvendo a face, e dermatite seborréica); deficiência nutricional (riboflavina, folato e ferro), imunodeficiência (HIV, diabetes mellitus, câncer e transplante), hipersalivação e fatores mecânicos provocando a perda da dimensão vertical de oclusão, com queda do lábio superior sobre o inferior na altura do ângulo da boca, como ocorre no processo normal de envelhecimento, no prognatismo, na ausência de dentes ou com o uso de próteses mal adaptadas. Quase sempre ocorre pelo acúmulo de saliva no ângulo da boca.
No tratamento da queilite angular é fundamental a correção dos fatores desencadeantes como, por exemplo, adequação de prótese dentária e correção de deficiência nutritiva, terapia da doença de base, assim como a aplicação de antimicóticos e antibióticos tópicos.
O processo inflamatório dos lábios desencadeado pela ação irritante ou sensibilizante de agentes químicos é denominado queilite de contato. Dentre os produtos envolvidos com maior frequência, destacam-se os batons, medicamentos tópicos, dentifrícios, colutórios, esmaltes, produtos odontológicos, alimentos, instrumentos musicais de sopro, canetas e outros objetos que são compulsivamente levados à boca.
Nesses casos o uso de corticosteróides tópicos está indicado e de preferência os de alta potência por curto período de tempo. Algumas vezes, quando o processo inflamatório é intenso, pode ser feito um curso rápido de corticosteróide sistêmico.
A queilite esfoliativa é uma desordem inflamatória crônica superficial da área do vermelhão do lábio caracterizada por hiperceratose e descamação persistente.
Pode ser um processo autônomo ou decorrente de diversos fatores, como disfunção tireoideana, familial, ou ainda ser um eczema idiopático. No entanto, apesar da etiologia permanecer desconhecida, esta é, em geral, atribuída ao hábito repetido de morder os lábios. É predominante em meninas e mulheres jovens e a maioria tem algum tipo de distúrbio de personalidade.
Para o tratamento da queilite esfoliativa prescreve-se, em alguns casos, corticosteróides tópicos, tranquilizantes e psicoterapia.
Tem sido descrito três tipos de queilite glandular: a simples, a glandular superficial e a glandular apostematosa profunda, todos acometendo com maior frequência em indivíduos do sexo masculino.
A forma simples da queilite glandular caracteriza-se clinicamente por discreto aumento de volume e eversão do lábio inferior, com a presença de pequenos pontos avermelhados e deprimidos, que correspondem ao óstio das glândulas salivares.
O processo de infecção secundária da queilite glandular simples, manifesta-se pela saída de secreção purulenta pelos orifícios glandulares, que ao secarem formam crostas impetigóides. Estas, quando desprendidas, deixam áreas erosadas, em geral com cicatriz.
O tratamento das queilites glandulares consiste na erradicação de focos dentários, aplicação de antibióticos e corticosteróides locais ou sistêmicos, dependendo da gravidade do caso, podendo ser necessário até ressecção ampla da área comprometida ou limpeza cirúrgica.
A queilite granulomatosa foi descrita por Miescher, em 1945, como uma forma monossintomática da síndrome de Melkersson-Rosenthal.
Sua causa é desconhecida, porém diversas etiologias lhe têm sido atribuídas. Manifesta-se clinicamente por episódios de edema indolor do lábio superior ou inferior, podendo envolver também mucosa oral, outras áreas da face e até o couro cabeludo. O edema se deve à obstrução linfática ocasionada pelo infiltrado granulomatoso. Estes episódios duram horas ou dias, sendo recorrentes. De início simulam angioedema, deixando discreto edema residual e adquirindo consistência mais firme a cada episódio.
O tratamento deve ser orientado no sentido de eliminar qualquer foco dentário infeccioso, identificar e controlar processo alérgico.
A terapêutica medicamentosa inclui corticoesteróide sistêmico ou intralesional, cloroquina, dapsona, clofazimina, com resultados parciais de melhora.
As medidas preventivas incluem a aplicação de protetores solares labiais, a supressão do hábito de colocar objetos na boca e de morder ou lamber os lábios, cuidar da limpeza e desinfecção das próteses dentárias e evitar banhos quentes ou demorados. Na queilite angular, há necessidade de eliminar os fatores desencadeantes da manifestação, o que pode exigir o combate ao agente infeccioso com antimicrobianos tópicos, a adequação da prótese dentária, o tratamento da deficiência nutritiva com suplementos e a correção do problema mecânico.
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